Não como se não tiver batatas fritas! , ou então: “Vou dormir na hora que quiser, você não manda em mim!”. Essas frases ditas assim, neste tom imperativo ecoam pela sua casa? E quantas vezes, pequeninos dedos em riste acompanham em gestos estas recusas?
As ordens das crianças circulam pelas famílias numa relação diretamente proporcional às dúvidas que os pais têm a respeito da questão da autoridade. Uma recusa veemente de comer, ou dos horários impostos, muitas vezes paralisam os papais. O que fazer diante daqueles pequenos ditadores? Alguns reagem de forma igualmente violenta. Outros permitem que o pequenino regule o ritmo da casa, em favor de um armistício.
O mundo é um espelho
Família é mesmo uma coisa muito complicada. Várias pessoas vivendo numa casa são sinônimas de pluralidade reunida. Ou seja: são desejos, ritmos e até metabolismos diferentes que precisam conviver da forma mais harmônica possível. E viver em grupo é, na verdade, um grande exercício de tolerância. Só que esta paciência, tão necessária entre os membros desta pequena comunidade, tem limites. Você também já deve ter ouvido esta frase da sua mãe, e muito provavelmente já usou esta pérola com seus filhos: “Paciência tem limites!”. Difícil é encontrar esta fronteira, a linha divisória tão sutil entre o que deve ser tolerado, aceito como expressão das individualidades e o que passou para o terreno da falta de respeito.
Todos nós, desde crianças, temos no mundo externo uma referência de identidade. Ele funciona como espelho, refletindo o nosso comportamento e devolvendo-nos um contorno próprio. Basicamente, esta resposta – como o mundo nos enxerga – é o que nos imprime as marcas pessoais e nos dá segurança.
Portanto, a cada ação que realizamos, o mundo exterior faz o papel de contraponto. Quando o pequenino fala alto demais, os papais reclamam, se come de boca aberta, seus companheiros de refeição se queixam e, por outro lado, quando faz uma gracinha, quem está por perto reage positivamente. Tudo isso dá a certeza à criança de que ela não é transparente, e de que a mamãe, o papai ou quem mais estiver por perto está prestando atenção nela. Os pequeninos precisam sentir que, em todos os momentos, seu comportamento vai esbarrar numa reação do outro. Desta percepção surge a noção de seu próprio tamanho.
Autoridade e autoritarismo
Quando a família permite que seu pequeno faça simplesmente tudo o que quer, na verdade, está abandonando o pequeno a si mesmo, o que é muito sério. O ritual de pedir permissão é inclusive bem-visto pelas crianças. Ele traz segurança. E dar limites faz parte do amor. Trata-se de uma demonstração de atenção, de preocupação.
Existe, entretanto, uma grande confusão entre as noções de autoridade e autoritarismo. O conceito de autoridade pressupõe o respeito a regras ou leis que valem de forma igual para todos os membros de uma comunidade. O autoritarismo, pelo contrário, implica na obediência de alguns às vontades de outros. A autoridade pode e deve ser exercida dentro de casa. É o exercício da socialização, o aprendizado da convivência. Quando o pequeno percebe, desde cedo, que é preciso respeitar o outro sem que isto signifique prejuízo ou violência pessoal – ele saberá como se posicionar no mundo.
A desobediência ostensiva dos filhos cria uma relação desgastante. Quando se trata de crianças ainda pequenas, vale lembrar que as regras de educação são importantes para regular a convivência harmônica. Ensinar os pequeninos a se comportarem bem à mesa, por exemplo, é uma forma de dar a eles os instrumentos necessários para que possam participar do ritual coletivo das refeições. Isso não quer dizer adestrar as crianças. Pelo contrário. Se elas souberem que, por exemplo, não se coloca os pés em cima da mesa enquanto se come, estarão também tomando contato com as regras do comportamento que permitem a sua aceitação na sociedade. E para haver uma inserção num grupo, é sempre preciso que pessoas façam este pacto de harmonia, para que um não incomode o outro. As regras de bom comportamento não são, necessariamente, para serem seguidas à risca. Inclusive, cada família tem suas normas e rituais particulares. Os papais devem transmitir os ensinamentos básicos, e os pequenos vão criar em cima disso. Mas, pelo menos, eles saberão que se comportando desta ou daquela forma, poderão participar do mundo dos adultos como iguais. O importante é não tratar as crianças como se fossem seres incompletos e incapazes.
Conversa sempre ajuda
Os pais não devem ter medo de responder com firmeza quando for necessário. É importante ter em mente que este exercício de respeito entre as pessoas não vale só de um lado. Os papais têm que tomar cuidado para que as individualidades dos pequenos não sejam atropeladas. Conversar é sempre o melhor caminho para entrar em acordo. Os adolescentes também costumam aceitar com prazer e tranqüilidade este tipo de iniciativa.
Muitas vezes, temos medo de fazer uma repreensão enérgica com receio da raiva dos filhos. Mais um motivo para lançar mão da conversa franca. Afinal, se existe uma situação de atrito – às vezes insuportável dentro de casa, ela incomoda a todos. A franqueza será um alívio, e não só para os papais.
É comum também a mãe permitir que a criança regule sua própria vida para não ter o trabalho de interferir. Preguiça de brigar, de se aborrecer. Porém a permissividade, assim como a rigidez excessiva, cria tiranos. Na falta de alguém que lhe dê limites, o pequenino certamente irá criar situações de provocação até sentir que esbarra, encosta no outro que não está respondendo às suas demandas de atenção.
O grande regente desta relação é a sensatez. Cada um é um e merece tratamento particular. Às vezes, um temperamento mais esquentado dentro de uma família encontra mais resistência dos parceiros de convivência. Tudo isso pede um grande esforço de administração das vontades. Construir uma silhueta de tolerância entre cada membro da família ajuda a aparar os atritos. No mais, vale a pena investir nesse exercício de convivência. Ele começa em casa. Um pequeno tirano dificilmente vai conseguir carregar seu tom mandão para o mundo. Afinal, a paciência de todas as pessoas tem limites.
Por: Autor Desconhecido